28/05/2016

Aos acasos: o que vou fazer pelo resto da vida?


O dilema de qual carreira escolher aterroriza muitos adolescentes. E é engraçado como a conversa muda à medida que você cresce. Quando criança, você é encorajado a ser o que quiser ser, faz aulas de dança, de canto, de teatro, pratica esportes e sonha com o que vai se tornar. Junto a isso, é claro, é aconselhado sobre como os estudos são importantes, como abrem um mundo de oportunidades.

Mas, quando você cresce e a hora de escolher o que quer ser chega de fato, essas oportunidades parecem diminuir: direito, medicina, engenharia, odontologia, administração. Esses são apenas alguns exemplos de cursos, mas com certeza alguns dos mais concorridos. E não porque sejam melhores, mais interessantes ou mais fáceis – essa não é a questão. Esses são cursos que as pessoas erroneamente acreditam poder te fazer bem sucedido. Mesmo sem perceber, talvez a ideia de alguns desses cursos pode ter sido colocada em sua cabeça pela pressão – às vezes nem tão – sutil que emana de seus pais, parentes, professores ou mesmo amigos.

E eu poderia escrever este texto para te falar: "não se deixe levar por essa pressão!" "Não faça suas escolhas pelos outros, mas por você!" "Siga seus sonhos, porque é você quem vai vivê-los depois!" São todos clichês muito bons – e reais. Isso é o que desejo para você (e, no fim das contas, é isso que vou te falar). Mas, justamente por serem clichês tão fortes, não costumam surtir muito efeito. Na vida real, parece que as coisas não são tão simples. Então deixe-me tentar outra coisa:

Essa não é a decisão de uma vida. Claro, escolher uma profissão é importante, mas talvez nem seja isso o que você está fazendo. Você está escolhendo um curso, e não se resumirá a isso. Veja bem: até hoje, você pode ter tido alguns trabalhos, mas provavelmente focava mais nos estudos. Você define sua vida em “estudante”? Todas as suas experiências, seus amigos, sua família, seus hobbies, manias, interesses, tudo isso envolveu a escola? Não. Ela era uma parte de você. Só uma parte. E agora você pode escolher continuar por essa parte, ou começar a trabalhar, ou ir para a escola da vida, mas a questão é que suas outras partes não deixarão de existir.

“Seguir nossos sonhos” não é uma decisão que tomamos na hora de escolher qual vestibular prestar. É uma escolha de vida. É estar aberto para as mudanças que a vida traz, e ter coragem para abraçá-las. Quantas coisas já não aconteceram ao acaso? Quantos amigos você já não conheceu porque foi para uma escola e não para outra, ou porque esbarrou naquela pessoa naquela viagem? Quantos formandos em direito não são agora donos de lojas de roupas, ou quantos matemáticos não acabaram se tornando escritores (ex.: Júlio césar de Melo e Souza)?

Quando escolher um curso, escolha com o coração. Se você quer fazer medicina, jornalismo, letras, pedagogia, direito, filosofia ou moda, faça. Isso é o que você precisa agora. Vá conhecer pessoas, ser mais independente, entender novas formas de pensar e fazer da sua a mais original possível. Talvez você descubra se prefere o conforto ou as aventuras. Talvez perceba que era essa a profissão que você queria seguir, termine o curso e fique feliz em trabalhar com isso. Talvez pare o curso e escolha outro. Isso não é desistir. É reconhecer que aquela experiência lhe foi válida, mas você precisava de mais. Talvez você termine sua faculdade e decida fazer algo diferente. 

A questão é: a vida guarda muitas surpresas. Isto é a abertura de um mundo de oportunidades. Estar suscetível a todas essas surpresas. Não ter medo de errar, porque não existe essa de erros. Quer dizer que tem um jeito certo de fazer as coisas? Quem bolou esse “guia para a vida”? Tudo bem se a ideia de um emprego regular, uma casa, dois filhos e um cachorro não te atrai. E tudo bem se atrai. Talvez daqui a dois meses seja diferente e você mude de ideia. Talvez não.

Por isso o que te digo é isso: saia, converse, conheça pessoas, conheça lugares, abra sua mente. Esteja aberto a todas as experiências por que passar e saiba aproveitá-las. Não se prenda a um plano, quando o acaso é tão divertido. Deixe-o te surpreender.

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